A segunda região com mais registros de violências contra mulher na Capital, a do Lagoa, recebeu o lançamento do projeto Mulher em Foco, na sexta-feira (8), na Cufa (Central Única das Favelas). Juntas, elas compartilharam histórias de vida e luta, onde a resistência e amor aos filhos sustentam a força das mulheres periféricas. Como reportado pelo Campo Grande News, a Subsecretaria de Políticas para a Mulher divulgou o "Dossiê Mulher Campo-grandense 2023". Nele está mapeado que, dos 5020 atendimentos realizados na Casa da Mulher Brasileira, 15,9% são de moradoras do Lagoa, atrás apenas para o Anhanduizinho, com 24,9%, mas que também é a região mais populosa da cidade. Para a presidente da Cufa, a assistente social Letícia Polidoro, é essencial que as políticas públicas sejam descentralizadas, que cheguem até as comunidades, para que consigam enxergar um futuro livre de tantas lutas. “Essas ações são sempre centrais, então é muito importante que venha para mais próximo, para que elas possam falar sobre as dificuldades e acessar os serviços. Aqui é o segundo bairro com mais violência doméstica na Capital, mas também temos que falar representatividade delas, da maternidade real, de querer que o filho cresça em outra realidade. Vamos valorizar os sonhos, pois resistência é a palavra que define essas mulheres”, defende Letícia. Ir até onde as mulheres que mais dependem do serviço público é o objetivo da Subsecretaria de Políticas para a Mulher, de acordo com a subsecretária e socióloga Manuela Nicodemos. Por isso, o calendário de eventos e ações voltadas para a inclusão delas foi lançado ali, junto com a comunidade do Santa Emília. “Acreditamos que é preciso pisar no território dessas mulheres, exercer a escuta participativa. É quando eu saio do ar-condicionado e vou saber as demandas das pessoas que conseguimos elaborar políticas públicas eficazes. Às vezes a gente tem um imaginário do que é ideal para as mulheres, mas quando nos deslocamos, percebemos que precisamos rever muitas coisas. Recebemos exemplos de falhas aqui, que só é reconhecido quando ouvimos elas”, reconhece a subsecretária. Quando o dia 8 de março foi oficializado Dia Internacional da Mulher pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1975, era reconhecida a força e luta das trabalhadoras que saíram das suas casas, no período das guerras europeias, para sustentar as famílias com o que conseguiam nas fábricas. Atualmente e em solo sul-mato-grossense o perfil da maioria das mulheres é completamente diferente. Inclusive, o Dossiê Mulher Campo-grandense diz que 63,4% das vítimas de violência são pardas, 36,9% recebem um salário mínimo e quase a mesma parcela possui Ensino Médio completo. É esse grupo que precisa ser enxergado, diz a defensora pública e do Nudem (Núcleo da Mulher), Zeliana Sabala. “O perfil da mulher mudou: é a mulher que não tem possibilidades econômicas, a mãe solo, sem rede de apoio familiar e do Poder Públicos, já que a falta de creches ainda é um problema recorrente, além das mulheres que demoram para se reconhecer no ciclo de violência”. Ela continua reforçando que “são as mulheres que precisam de atendimento, pois somos mais de 50% da população brasileira, somos quem tem mais acesso ao Ensino Superior, mas no local de poder o número de mulheres é pequeno. Ainda estamos numa sociedade machista, misógina e patriarcal. A questão da raça é central, a gente vê que as vítimas de violência tem cor e blocos de residência”, concluiu. É esse “enxergar a si mesma” que impacta as mulheres quando recebem esclarecimentos, quando são alcançadas pelas Políticas Públicas de assistência social. Hozana Prates tem 37 anos, é mãe de sete crianças e diz que todo conhecimento adquirido será passado de geração em geração. “Aprendemos muitas coisas que nem sabíamos que existem para defender as mulheres. Um exemplo são mulheres abusadas pelos próprios esposos e não sabiam. Acho que a comunidade precisa disso, ter acesso a mais informação, abrir os olhos, para passar a informação de geração em geração. Nós temos várias batalhas.. É na casa, é com os filhos, com saúde e educação. É para vencer essas batalhas que precisamos nos ajudar”, refletiu a dona de casa. Quando mulheres se apoiam, até os ciclos de violências se encerram. É o caso da Adriana Alves de Lima, 50 anos, que mora em frente a casa da irmã Andrea de Alves Lima, 44, que conseguiu se libertar de um relacionamento abusivo graças à união delas. “Eu fui uma mulher que sofreu calada, com abusos psicológicos e físicos, corri até risco de morte, mas eu sobrevivi. Me libertei com o apoio da minha irmã! Ela esteve comigo em todo processo, ela foi essencial nisso. Consegui me libertar, mas não cheguei a denunciar”, compartilha. Durante todo o mês de março, a Secretaria de Estado da Cidadania, através da Subsecretaria de Políticas Públicas, realizará ações voltadas ao público feminino.