Espetáculo ‘Metamorfose’ estreia em Goiânia; confira a entrevista
O espetáculo “Metamorfose”, inspirado na obra icônica de Franz Kafka, estreia hoje no Brasil em Goiânia, no Teatro Goiânia, às 16h, com entrada gratuita. Também vai ter apresentação às 20h. Após a apresentação, o público poderá participar de um bate-papo com o artista Gustavo Silvestre, que traz à cena uma releitura contemporânea e imersiva da obra literária. Com duração de 40 minutos, “Metamorfose” combina dança, teatro e audiovisual em uma performance solo que explora a complexidade da transformação física e emocional, elementos centrais da história de Kafka.
O espetáculo é fruto de uma extensa trajetória internacional. Em 2023 a peça circulou pela Europa, onde conquistou o prêmio de júri popular no prestigiado Festival Imaginarius, em Portugal, um dos maiores eventos de artes de rua da Europa. Gustavo Silvestre também foi o único artista brasileiro a integrar a programação do Buffer Fringe Festival, no Chipre, consolidando o espetáculo como uma referência inovadora na dança contemporânea.
A circulação nacional do espetáculo em 2024, viabilizada pelo Edital de Fomento à Dança do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás 2023, leva “Metamorfose” a diversas capitais brasileiras, com apresentações gratuitas e atividades pedagógicas voltadas para a formação de público e artistas locais. Além de Goiânia, a turnê inclui duas apresentações em Brasília, nos dias 31 de agosto e 1º de setembro, e segue para Palmas, onde o público poderá conferir o espetáculo nos dias 3 e 4 de setembro.
Com um trabalho que transcende as fronteiras entre as linguagens artísticas, Gustavo Silvestre propõe uma experiência sensorial e reflexiva, convidando o público a mergulhar em um universo onde o corpo se transforma em metáfora de adaptação e resistência. “Metamorfose” é uma oportunidade única de presenciar o encontro entre arte e filosofia, em um espetáculo que promete emocionar e provocar reflexões profundas sobre a condição humana.
Em entrevista ao Jornal Opção, Gustavo Silvestre compartilhou como foi o processo de idealização e produção do espetáculo. Confira a entrevista.
Gustavo Soares — Como surgiu a ideia do espetáculo Metamorfose?
Gustavo Silvestre — Essa ideia surgiu em 2012 para você ter uma ideia. Eu sou um aficionado por Kafka, já li todos os trabalhos dele e sempre tive na mente assim, ah, meu primeiro solo, meu primeiro trabalho autoral vai ser uma adaptação do texto à Metamorfose. Eu tinha uma parceria com o co-diretor, o João Bosco Amaral, e a gente ficou namorando essa ideia desde então. Até que, em 2022, eu aprovei um projeto pelo Fundo de Arte e Cultura e falei, agora vai sair. Como o João estava lá em Portugal, foi uma coprodução internacional, porque uma parte foi feita aqui, com apoio financeiro desse projeto local, e uma parte foi realizada lá. Até que o espetáculo fez a sua pré-estreia na cidade de Braga, em Portugal, e depois em Goiânia.
Gustavo Soares — Qual o papel da música na construção da atmosfera do espetáculo?
Gustavo Silvestre — A trilha autoral foi um trabalho muito delicado de escuta, faz, refaz, com o compositor que é o Rodrigo Flamarion. Eu já trouxe algumas referências pra ele, eu tinha uma coisa muito da música eletrônica, eu acho que a principal referência foi Rufos do Sol, que é uma banda que eu super admiro. Porque já tem uma temática muito densa, e eu falei assim, não, Rodrigo, eu quero trazer, por mais que tenha uma temática muito densa, tenha uma visceralidade, mas eu quero trazer, eu acho que uma certa euforia, porque a música eletrônica traz isso. A gente brincou muito, tanto com momentos mais densos, momentos mais hipnóticos, mais momentos mais eufóricos, então a construção foi feita assim.
Gustavo Soares — Como foi o processo de criação e escolha do figurino e como ele se conecta com a temática da Metamorfose?
Gustavo Silvestre — Foi um trabalho quase artesanal com o figurinista, que é o Claudio Livas. Eu trouxe para ele inicialmente todas as referências. A gente ainda não tinha criado nada de cena. Então eu falei sobre esses processos de metamorfose que a gente encontra na própria natureza. Sei lá, da lagarta que passa pelo casulo e se transforma numa borboleta, por exemplo. As texturas presentes na natureza mesmo. A gente queria brincar com isso, porque a gente queria trazer essa visceralidade para o corpo. E o figurino é quase como uma segunda pele. Tem muitas camadas que são tiradas e colocadas. A gente queria falar sobre essa coisa do tecido que toca, do tecido que transfigura o próprio desenho humano.
Gustavo Soares — Qual a mensagem ou sentimento que você deseja transmitir ao público com o espetáculo?
Gustavo Silvestre — É muito complexo. Uma mudança de casa, uma mudança de cidade, um casamento, uma mudança de trabalho. São processos cotidianos e contínuos de metamorfose, porque você tem que aprender a se adaptar num ambiente novo, com pessoas novas, numa situação diferente. E às vezes a gente passa por metamorfose muito doloridas, de se encontrar mesmo, eu acho que nesse lugar é existencialista, de falar assim, cara, para onde eu vou, o que eu quero da minha vida, que rumo tomar daqui para frente. Às vezes a gente se depara com situações que a metamorfose acontece quase que forçadamente. Então eu queria falar sobre esse lugar, eu queria que fosse um espetáculo. As pessoas se identificasse, que falasse assim, nossa, parece que eu estou nessa fase, né, da minha metamorfose.
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