Vitória da Pesquisa Nova Valsa de Chopin Descoberta em uma Biblioteca de Nova York
Dizem que, de tempos em tempos, a história revela surpresas inestimáveis para aqueles pesquisam nas páginas amareladas e nas prateleiras esquecidas das bibliotecas. Em uma tarde comum, o curador Robinson McClellan, da Morgan Library & Museum de Nova York, teve o que ele chamou de “encontro de uma vida”. Em meio a uma coleção variada que incluía cartões postais assinados por Picasso e cartas de Tchaikovsky e Brahms, McClellan parou ao abrir uma partitura que, sob o rótulo modesto de “Valse”, carregava o nome enigmático de Chopin.
A descoberta é um tesouro raro e inesperado: uma valsa inédita de Frédéric Chopin, perdida no tempo e nas mãos de colecionadores que talvez desconhecessem seu verdadeiro valor. Desde 1849, ano da morte do compositor, o mundo musical achava que já conhecia todos os legados possíveis deixados pelo mestre polonês, mas esta valsa, curta, com apenas 48 compassos, parece desmentir essa suposição.
A peça é peculiar em vários sentidos. Com uma abertura marcada por “fortíssimo triplo” (uma indicação de intensidade extrema), seu tom melancólico e dramático foi descrito por Lang Lang, pianista escolhido para a primeira gravação pública da valsa, como uma música “incrivelmente Chopiniana”, evocando as dores e incertezas de seu tempo. Não é uma peça de virtuosismo grandioso, mas carrega a essência melódica e emocional que é a marca registrada do compositor. A tonalidade de lá menor parece remeter diretamente ao inverno sombrio do interior polonês, uma melancolia que Chopin carrega em algumas de suas obras mais intensas.
Além do encanto musical, a descoberta tem gerado debates entre especialistas sobre sua autenticidade. A caligrafia minúscula e peculiar de Chopin, a mesma que assina a clave de fá de maneira inconfundível, é uma das evidências que reforçam a autenticidade do manuscrito. Outros elementos, como o tipo de papel e a tinta, também se alinham com os materiais que o compositor usava. Ainda assim, há algo que permanece em aberto, quase como um enigma deixado de propósito, talvez pela própria indecisão de Chopin em relação à obra.
O curador McClellan acredita que a peça foi escrita para alguém próximo, talvez uma dedicatória não formalizada, uma pequena recordação para um amigo ou uma admiradora. Chopin era conhecido por sua generosidade musical; em diversas ocasiões, presenteava pessoas com manuscritos de valsas ou outras peças menores. Não é difícil imaginar o jovem Chopin, entre seus 20 e 25 anos, ainda apegado à terra natal, compondo algo breve e sincero, como um pedaço de alma que pudesse carregar um instante efêmero, uma espécie de melancolia alegre.
Na execução o pianista Lang Lang, buscou capturar cada nuance do estilo chopiniano, a peça ganhou vida para o público em Manhattan. Lang Lang cuidou da interpretação como quem entende que esta valsa é mais do que uma descoberta musical: é uma janela para as emoções de Chopin, um fragmento da alma que o compositor deixou escapar, talvez por acidente ou intencionalmente. O pianista refletiu sobre como cada toque e cada nota conseguem, ainda hoje, transportar o ouvinte para um universo de saudade e introspecção, um reflexo da jornada de Chopin entre Paris e a Polônia, lugares que nunca deixaram sua música.
É fascinante que Chopin, um gênio que se dedicou a escrever para o piano como poucos, tenha deixado ainda tantas dúvidas e mistérios em suas partituras. Ele próprio, que ordenou que suas obras inacabadas fossem destruídas, talvez se surpreendesse ao ver que, séculos depois, um mundo inteiro celebra essa “pequena valsa” como uma vitória da pesquisa. Essa descoberta reforça a atemporalidade de Chopin e, mais uma vez, nos lembra de que, no universo da música, o passado nunca está realmente enterrado. Cada nota recém-descoberta tem o poder de transcender o tempo e de nos fazer vislumbrar um pouco mais da alma de um artista imortal.
Ouviremos essa gravação realizada pelo afamado pianista chinês, Lang Lang, em 07 outubro de 2024 na qual foi apresentada essa obra inédita ao mundo.
Observe a beleza desta “pequena valsa” em lá menor, composta provavelmente entre os anos de 1830 e 1835, nessa interpretação cuidadosa e genial de Lang Lang.
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