Eu odiava meu corpo até que ele parou de funcionar
Charlotte Gomez / BuzzFeed
Todo mês, a revista New York Times apresenta uma reportagem chamada "Diagnóstico". Ela é sobre mistérios médicos difíceis de resolver: mulheres com manchas estranhas, homens com problemas renais. As histórias são contadas sem pausa, e os leitores são convidados a raciocinar e adivinhar o que há de errado com os pacientes. No final, o mistério médico é resolvido por uma equipe inteligente de médicos. Os problemas do paciente raramente são perfeitamente resolvidos, mas são sempre abordados de forma esperançosa e determinada.
"Diagnóstico" foi muitas vezes minha leitura favorita na revista nas manhãs de domingo, satisfazendo meu ser interior hipocondríaco e detetive — até que me encontrei vivendo um daqueles mistérios médicos.
Eu estava no interior com alguns amigos quando a coceira começou. No começo, ela estava localizada nas minhas coxas. Era como estar com a pele seca, então eu passei loção e não pensei em nada. Mas, em seguida, a coceira continuou e se espalhou. Foi até as minhas pernas e para baixo. Foi para os meus quadris e minha barriga.
Eu viajei para Los Angeles e a coceira continuou. Apesar do clima mais quente, minha pele estava vermelha e machucada de tanto coçar. Fiz várias paradas na farmácia, investindo em uma pomada médica chamada Aquaphor, na esperança de obter algum alívio. Eu comprei cremes de cortisona e tomei banhos de aveia.
Após duas semanas de coceira quase ininterrupta com a pele formigando, eu fui ao meu médico, que não deu muita importância, me colocou em uma bateria de anti-histamínicos sem receita e enviou um frasco do meu sangue para testes. "Você sabia que coceira indefinida pode ser um sinal de câncer de sangue ou um problema de fígado?", ele me disse alegremente.
Eu acordei no meio da noite com sangue na minha barriga de tanto me coçar.
Eventualmente, me disseram que eu tinha urticária dermográfica, uma forma de urticária onde o corpo produz histamínicos — essas substâncias que seu corpo produz durante uma reação alérgica — de forma descontrolada (isso também atende pelo apelido sexy de "escrita na pele", porque os afetados são, muitas vezes, capazes de fazer palavras e imagens aparecerem em sua pele, pressionando com as unhas ou um palito). Me passaram um regime constante de anti-histamínicos para tratá-la — Allegra e Zyrtec durante o dia, e Benadryl à noite, além de um creme esteroide para passar nas minhas pernas e braços.
A coceira persistiu.
Minhas costas tornaram-se um mapa de vergões, uma série de linhas de feridas e marcas de bolhas. Durante as reuniões, eu agarrava meus braços. Em passeios de metrô, minhas mãos desciam pela minha calça para aliviar um pouco a coceira no meu osso do quadril ou da barriga. Eu acordei no meio da noite com sangue na minha barriga de tanto me coçar.
Um dia em uma loja, eu experimentei um vestido na altura do joelho e a vendedora comentou sobre os vergões e marcas pelas minhas pernas.
"Parece que os mosquitos devem realmente amar você", disse ela. Eu estava mortificada porque meu corpo havia se tornado uma espécie de casca dura e feia. Eu balancei a cabeça e fiz uma piada sobre o quão doce meu sangue deveria ser.
Em uma revista, não ter um diagnóstico é uma distração divertida por alguns minutos. Na vida real, é um exercício tortuoso de visitas ao médico, pagamentos de seguros e medicamentos caros.
Eu fiz uma consulta em outro médico. E depois outro. Eu fui ao dermatologista e o alergista. Voltei para o meu médico habitual e pedi algum tipo de final mágico para a coceira. Eu queria que meu sofrimento acabasse. Eu parei de me exercitar e de sair. Eu só tinha energia para me coçar.
Meu diagnóstico original, que não tinha fim e nenhuma solução, nenhuma resolução da revista New York Times, foi substituído por outra vaga declaração: algo chamado prurido, uma maneira elegante de dizer coceira não especificada. Os médicos, ao que parece, apenas têm bons nomes para quando eles não têm respostas.
Prurido é, de acordo com o meu alergista, bastante comum. Para realmente tratá-lo, você tem que determinar a causa subjacente, exceto que às vezes não há causa subjacente. No meu caso, a causa subjacente — se houvesse — não era clara. De acordo com a WebMD, isso muitas vezes afeta pessoas idosas.
Eu estou morrendo de medo de que isso esteja além do meu corpo, que isso se torne uma parte de mim, como respirar.
O que é engraçado, porque agora a minha mesa de cabeceira poderia pertencer a uma senhora na casa dos oitenta anos, repleta de frascos de comprimidos e prescrições. Há Allegra, Zyrtec, Benadryl e Zantac, além de anti-histamínicos, hidroxizina e levocetirizina, prednisona e a pílula para dormir para compensar o quão nervosa a prednisona me deixa. Minha mesa de cabeceira deixaria qualquer Charlotte Brontë com ciúmes.
Eu tomo todas essas pílulas porque espero que a sensação de coceira vá parar, mas eu também estou morrendo de medo de que isso esteja além do meu corpo, que isso se torne uma parte de mim, como respirar. O desejo de coçar passou de físico para algo mais pesado — a coceira é tanto na minha cabeça como na minha pele e sob ela. Deixando isso de lado, obter alívio a partir do ato de coçar é algo muito mais difícil de se conseguir.
Mas há outra coisa: eu vim, nestes últimos meses de coceira e vergões nocivos, a perceber que eu perdi o ponto do meu corpo por muito tempo. Quando seu corpo trai você, quando você tem que concentrar todo o seu tempo e atenção apenas em ficar bem, todas as vaidades com as quais você costumava se preocupar — quão chapada sua barriga está, quanto você pesa, ou se a sua pele está perfeitamente clara — não computam mais. Há algo libertador em deixar de lado esses velhos hábitos, que são uma espécie de doença angustiante.
Desde que me tornei consciente de mim mesma como uma mulher, eu tenho sido crítica do meu corpo — como ele é, como ele se classifica, como ele se encaixa ou não contra outros corpos que eu acho que são melhores do que ele. Isso me levou, por vezes, a morrer de fome, me exercitar demais ou ser obsessiva com minhas coxas ou barriga, ou com a minha bunda. Quando eu penso em todas as horas que eu perdi criticando meu corpo pela forma dele — um corpo que costumava realmente funcionar razoavelmente bem, que não tinha coceiras no meio da noite —, eu quero gritar.
Isso veio muito tarde, mas agora eu entendo que o meu corpo — que qualquer corpo — não é simplesmente um espaço competitivo destinado a julgar o sucesso ou o fracasso.
Que o meu corpo simplesmente funcionasse, que ele me permitisse prazeres simples e uma vida sem coceira, parece muito estranho agora. Eu fiquei tão miserável desde então, tão insatisfeita! Tão consciente do golfo cavernoso entre o que eu queria que meu corpo fosse — ágil, alto e côncavo — e o que ele realmente era. Eu me foquei nas falhas do meu corpo com uma precisão de laser, e avidamente utilizava sua energia em batalhas insignificantes, com foco em um objetivo improvável, impossível e fora do alcance e a uma média distância. Isso veio muito tarde, mas agora eu entendo que o meu corpo — que qualquer corpo — não é simplesmente um espaço competitivo destinado a julgar o sucesso ou o fracasso.
Eu ainda acordo coçando em momentos curiosos. Hoje foi às 4:30 da manhã. Eu tateei no escuro por outro Benadryl e tentei voltar a dormir. Eu ainda não sei por que ou como ou se isso vai acabar, mas esse sentimento é desgastante. Eu quero que as minhas mãos parem de se mover sem parar sobre a minha pele. E eu quero que a minha mente se acalme. Eu quero o meu corpo funcionando como antes, do jeito que deveria ser natural.
A Semana De Bem Com o Seu Corpo é voltada para explorar e celebrar nossas complicadas relações com nossos corpos. Você pode ler os posts da Semana De Bem Com o Seu Corpo aqui.
Chris Ritter / BuzzFeed