Parlamento de Israel abre impeachment contra deputado progressista por defender palestinos
Com ampla maioria, comissão da Câmara dos Representantes votou pela ação que prevê expulsão de Ofer Cassif, da coalizão Hadash, liderada pelo Partido Comunista
OperaMundi - Uma comissão do Knesset, o Parlamento de Israel, votou, nesta terça-feira (30/01), pela abertura de impeachment do deputado Ofer Cassif, que compõe a coalizão Hadash, liderada pelo Partido Comunista no Parlamento israelense.
Razão se deve pelo fato do parlamentar ter apoiado a denúncia apresentada pela África do Sul, na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, acusando Israel de cometer crime de genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza.
A ação que foi movida por 85 deputados que visa destituir o parlamentar foi aprovada pela comissão da Câmara dos Representantes com uma ampla maioria, por 14 votos a dois.
Com base no resultado, agora, o processo de impeachment passa para uma nova fase e será submetido a votação no plenário do Knesset, no qual a saída de Cassif apenas será concretizada se um mínimo de 90 deputados, de um total de 120, votar a favor.
E caso isso aconteça, Cassif, que defende os palestinos, poderá recorrer da decisão ao Supremo Tribunal de Israel.
Esta se trata da segunda vez em que o comitê do Parlamento israelense tenta abrir um processo de impeachment de um membro interno, e a primeira que foi aprovada em votação.
Votação pelo impeachment de Cassif - "Israel está de fato tomando medidas metodológicas e fundamentais para apagar, promover fome, abusar e expulsar a população de Gaza. Concretiza uma política de eliminação de quaisquer possibilidades de vida, o que leva ao genocídio”, declarava a petição assinada por Ofer Cassif.
O argumento usado por membros do comitê se baseou em uma “lei básica quase constitucional”, como informou o jornal israelense The Jerusalem Post, o qual defende que um parlamentar pode sofrer impeachment se “apoiar a luta armada, por um estado inimigo ou organização terrorista, contra o Estado de Israel”.
Segundo o deputado Oded Forer, a assinatura da petição configura como "apoio à luta armada" contra o Estado de Israel. O parlamentar ainda mencionou episódios em que Cassif expressou que as ofensivas de grupos a favor da causa palestina contra soldados israelenses não constituíam terrorismo.
Por outro lado, Cassif e seu advogado, Michael Sfard, rebateram o argumento afirmando que a manifestação contrária à guerra não significa necessariamente apoiar a luta armada do Hamas. Sfard ainda explicou que, de acordo com a lei, um impeachment apenas pode ser solicitado com base em “ações realizadas durante a atual composição do Knesset”, uma vez que os eleitores estavam cientes das posições de Cassif antes da eleição e, mesmo assim, votaram nele.
De acordo com The Jerusalem Post, a discussão no comitê foi “acalorada e incluiu muitos gritos” de parlamentares acusando Cassif de “apoiar o terrorismo”.
Após o resultado, a coalizão Hadash emitiu um comunicado afirmando que o avanço do processo de impeachment causou "danos sem precedentes ao direito de votar e ser eleito, e à liberdade de expressão". O partido do qual Cassif faz parte ainda acrescentou que a votação marcou “um novo recorde de perseguição política contra todo o setor árabe e aqueles que se opõem à guerra".