ARMAS, PITBULLS E TÊNIS DE PLATAFORMA ALTA
<span style=”color: #808080;”>Delmar Bertuol*, <a style=”color: #808080;” href=”http://www.pragmatismopolitico.com.br/” target=”_blank” rel=”noopener noreferrer”>Pragmatismo Político</a></span>
Gosto é como “aquilo”: cada um tem o seu. Esse é o dito popular. Ou outra sabedoria popular: gosto não se discute. Mesmo cada um tendo o seu, evidentemente, acho que podemos, ou até devemos, discutir.
Por exemplo, os tênis femininos que estão na moda, os de plataforma alta. Por favor. Isso é um atentado aos bons costumes de se vestir bem. Aliás, gurias: não é porque tá na moda que é bonito. É como diziam nossas mães, não é porque tá todo mundo fazendo que tu vai fazer também.
Eu fico pensando que as empresas de sapato e vestuário devem ter uma espécie de associação, com um responsável só por lançar “as últimas tendências”. O cara deve ficar o dia todo matutando: “que coisa horrenda vou relançar este ano?” “Já sei!”, ele vibra. E na reunião avisa: “pra abril, vamos colocar no mercado o sapato mocassim feminino.” Se pra homem já é feio, pra mulher piora. Mas a coisa vira moda. E as mulheres passam achar bonito usar um calçado masculinizado.
Mas as gurias não matam ninguém com seus sapatos bizarros. Quer dizer, há uns tamancos de duvidosos gostos que se pegar na cabeça pode sim levar a óbito.
Contudo, há gostos pessoais que podem interferir na vida alheia. Por último, tem matado pessoas que nada tem a ver com as peculiaridades do outro.
<span style=”color: #808080;”>Delmar Bertuol*, <a style=”color: #808080;” href=”http://www.pragmatismopolitico.com.br/” target=”_blank” rel=”noopener noreferrer”>Pragmatismo Político</a></span>
Nos últimos dias, pitbulls atacaram e feriram pessoas e mataram outras. Há quem defenda que o bicho não tem culpa, que depende como é criado e blablablá. Nem entro nessa discussão. Apenas questiono: qual a necessidade de se ter um pitbull, essa raça comprovadamente mais agressiva que as outras? Será mesmo que cachorros de outras raças não satisfariam o desejo de se ter um animal de guarda? Ou ainda mais nobre: por que não adotar um vira-latas nalguma ONG que oferece animais sem donos às dezenas?
Em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, o cara matou dois policiais, familiares e se matou. Ele tinha um verdadeiro arsenal em casa. Em princípio, tudo legalizado. É que ele era um chamado CAC. Nem o nome ajuda. Ele era um colecionador de armas. Com autorização do governo! Tanta coisa que se pode colecionar, o que leva uma pessoa a colecionar armas, algo pensado e produzido com uma única e fatal intenção: justamente isso, matar?
Eu já colecionei chaveiros, latinhas de cerveja e Tazos da Elma Chips. Cresci e aquilo não mais me fazia sentido. Pus fora ou doei. Donde pergunto de novo: qual o sentido de colecionar um produto que mata? É o mesmo que colecionar veneno. Atrevo-me a responder: a pessoa quer ter no mínimo a sensação de poder, de saber que pode matar. E aqui outra provocação: com que argumento o estado permite tal aberração?
E agora o ataque a bombas na Praça dos Três Poderes. Vou ignorar as motivações do sujeito (mas só um parênteses: estou com medo. Essa gente da extrema direita está realmente alucinada. E há quem defenda anistia). Ele comprou fogos de artifício às centenas ou milhares. Mas por que, Santo Deus, ainda se pode comprar fogos de artifício? Qual a necessidade de se comemorar algo com barulho? Os malefícios da poluição sonora estão comprovados pela ciência, afora os perigos do mal manejo desses materiais. Por que essa ode ao barulho? E mais, feito com explosivos! Atordoando as pessoas que só querem o descanso ou até mesmo os cães, pitbulls sobretudo.
Não espero que o governo proíba determinados tipos de calçados, pois horrendos. Mas algumas outras possibilidades de compras e criação deviam sim serem proibidas. E antes que alguém diga que isso é se meter na vida privada, já digo: é sim. E necessária intromissão, pois claramente põe em risco os demais, os que têm bom gosto.
<span style=”color: #808080;”>*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”</span>
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