Química entrevistado-entrevistador
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Lillian, segundo Alvaro, não usava gravador. Escutava o entrevistado com atenção e tomava discretas notas num bloco. Observava seus movimentos, gestos, tiques, jeito de andar, falar, se vestir, e os reproduzia em detalhes. Ao fazer isto, seu encontro com o entrevistado desfilava fisicamente aos olhos do leitor, como se ele também estivesse presente. E nada de a repórter se meter na narrativa nem "adivinhar" o que o personagem estaria pensando ou sentindo, muito menos passar julgamento sobre ele -o leitor é que deverá julgá-lo. Nas entrevistas de Lillian, o leitor é quase o coautor.
Pensei estar escutando um eco porque, por acaso, é exatamente o que acho a respeito. Nos últimos 35 anos, saí à rua alguns milhares de vezes para fazer as entrevistas em que se basearam minhas biografias de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda, além de livros sobre a bossa nova, o samba-canção e outros. Nunca usei um gravador. Como os melhores entrevistados são as pessoas mais simples, um gravador as intimidaria. Tomava notas por baixo da mesa usando uma taquigrafia pessoal.
O segredo de uma entrevista sem gravador é o entrevistador estar bem preparado, saber muito sobre o entrevistado. Lilian fala de um "envolvimento químico". Concordo. Um macete para ganhar de saída o entrevistado é falar de um amigo comum, contar uma história engraçada sobre ele.
O entrevistado relaxa, se abre e, sem que ele saiba, a entrevista já começou. Leia mais (01/26/2025 - 08h00)