Estudo aponta que afundamento em Maceió pode atingir área maior que a prevista
Um relatório técnico-científico apresentado por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, nesta sexta-feira, 8, aponta que o afundamento do solo em Maceió, causado por décadas de mineração de sal-gema pela Braskem, afeta uma área maior do que a prevista no mapa oficial de risco elaborado pela Defesa Civil. O estudo foi solicitado pelo Núcleo de Proteção Coletiva da Defensoria Pública de Alagoas e apresentado em audiência pública com autoridades, moradores e especialistas.
Segundo os pesquisadores, a metodologia usada para delimitar as áreas de criticidade não segue padrões internacionais e ignora evidências de campo, como rachaduras e movimentações em imóveis fora da zona oficial de risco. O geólogo Marcos Eduardo Hartwig, da Universidade Federal do Espírito Santo, afirmou que o critério de afundamento mínimo de 5 milímetros por ano é inadequado e que há registros de movimentações desde 2004. O estudo também identificou deslocamentos horizontais do solo, que contribuem para danos estruturais em imóveis adjacentes às áreas oficialmente reconhecidas.
Os moradores de bairros como Farol, Bebedouro e Bom Parto, que não foram indenizados por estarem fora do mapa de risco, relatam rachaduras em suas casas e contestam os pareceres oficiais que negam relação com a mineração. O defensor público Ricardo Melro, responsável pelo pedido do relatório, destacou a ausência de um mapa de danos reais e defendeu a revisão urgente dos critérios adotados. “Os relatórios oficiais vinham na contramão, como se descrevessem outra cidade”, afirmou.
Em nota, a Defesa Civil de Maceió afirmou que não há, até o momento, indicação de ampliação do mapa e que o processo de afundamento diminuiu em algumas regiões. Já a Braskem declarou que atua desde 2019 para mitigar os efeitos da subsidência e que o trabalho é baseado em estudos técnicos e acordos homologados pela Justiça. Ambas as instituições afirmam que o monitoramento é contínuo e realizado com equipamentos de alta precisão.
O relatório será entregue pessoalmente ao prefeito JHC pelo defensor Ricardo Melro, que espera sensibilizar a gestão municipal para ampliar a área de risco e garantir reparações às famílias afetadas. A expectativa é que o documento sirva como base para novas decisões judiciais e políticas públicas voltadas à segurança e à justiça social.
Contexto
O afundamento do solo em Maceió é resultado de décadas de mineração de sal-gema pela Braskem, que comprometeram a estabilidade geológica da região. Desde 2018, o fenômeno de subsidência, o rebaixamento gradual do terreno, provocou rachaduras e danos estruturais em milhares de imóveis, forçando a evacuação de cerca de 60 mil pessoas em cinco bairros da capital alagoana. Estudos indicam que o processo começou muito antes do monitoramento oficial e pode continuar afetando áreas urbanas por anos.
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