José Frederico Lyra Netto: “A maior ameaça não é a inteligência artificial — é ficar de fora dessa corrida”
Em meio ao avanço acelerado da inteligência artificial, Goiás tem se destacado como pioneiro e um dos estados mais dinâmicos do país na formulação de políticas públicas voltadas à inovação tecnológica. À frente da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), José Frederico Lyra Netto conduz uma série de iniciativas que vão da regulamentação da IA à formação técnica de jovens e inclusão digital de idosos.
Nesta entrevista, o secretário detalha a atuação do estado em frentes estratégicas — como a criação de centros de excelência, a expansão das Escolas do Futuro, a chegada dos chips da NVIDIA e as parcerias internacionais com países como Estônia e Singapura. Fala ainda sobre os desafios da formação de mão de obra qualificada, os projetos para atração de data centers e a digitalização de serviços públicos com foco na inclusão. Com trajetória técnica e experiência em articulações políticas, Lyra Netto também comenta sobre o cenário eleitoral de 2026, rechaça a possibilidade de concorrer a um cargo eletivo no momento e defende a continuidade do atual projeto de governo em Goiás.
Italo Wolff — Goiás é pioneiro na regulamentação da área de Inteligência Artificial (IA). O que já foi feito, de fato, que é específico do estado?
Goiás foi um dos primeiros estados a sancionar uma lei com essa abrangência. Posso afirmar com segurança que é a melhor lei já construída na área. Essa lei contou com o apoio do Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS). Para construí-la, foi realizada uma escuta de pelo menos um ano, e houve a participação direta do governador Ronaldo Caiado (UB) nesse processo.
O grande desafio é o seguinte: uma regulamentação precisa proteger as pessoas sem inibir a inovação. Não pode impedir que empresas, empreendedores e universidades experimentem. Esse é um dos grandes diferenciais da nossa lei. A legislação aprovada na Europa, e até mesmo a que está sendo discutida no nível federal, são muito restritivas. Elas partem da premissa de que a IA é um risco, uma ameaça. Em Goiás, partimos de outra premissa: o maior risco é ficar de fora dessa corrida.
Se deixarmos de participar do desenvolvimento e adoção dessa tecnologia, perderemos em termos econômicos, de inclusão social e até aumentaremos as desigualdades. Enxergamos a IA como uma oportunidade. Entendemos que é preciso proteger as pessoas e criar um ambiente favorável à inovação. Esse é o cerne da nossa abordagem.
Italo Wolff — A lei já foi sancionada. O que será feito a partir de agora? Como seus componentes serão implementados e de que forma vão impactar a vida dos usuários de IA?
Um exemplo é a criação do Núcleo de Ética em IA (NEI), previsto na lei. Esse núcleo está em processo de formação, e eu vou participar dele como secretário. É um órgão consultivo, que terá como função analisar e discutir as aplicações de IA no governo — o que pode e o que não pode ser feito — com base em casos concretos. Estamos, portanto, na fase de implementação.
Os membros do NEI serão representantes da sociedade civil, de órgãos do governo e especialistas da área. A ideia é garantir pluralidade para que as discussões tenham diferentes pontos de vista. O núcleo não pode ser composto apenas por representantes do governo, porque o governo tende a olhar apenas para seus próprios desafios. Mas ele também precisa estar presente, porque além de regulamentar, o governo é um dos principais interessados em aplicar a IA.
Esse é um ponto importante: a lei trata diretamente da aplicação da IA no setor público. Como essas tecnologias serão usadas pelo governo? O potencial é enorme. Já temos experimentos de IA na saúde, na fiscalização de contratos e em diversas outras áreas da administração pública.
Ton Paulo — Como se dará a participação da sociedade?
Trump acabou de lançar o que seria um plano de IA para os Estados Unidos, e há uma discussão importante sobre IA aberta — se os códigos dos modelos serão públicos ou fechados à sociedade. O Brasil tem uma tradição importante no movimento do software livre e do software aberto, e agora a nossa lei estadual prevê que, preferencialmente, os códigos das IAs desenvolvidas para o governo de Goiás devem ser abertos.
Ou seja, qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pode baixar esse código, adaptá-lo ou propor melhorias. Esse é um ponto-chave que a legislação federal ainda não tratava e que está sendo especificado agora na lei estadual de Goiás.
Ton Paulo — Neste ano, Goiás recebeu os microchips da NVIDIA — foi o primeiro estado da América Latina a receber esse equipamento. Uma parte está no Data Center do Estado e outra no Centro de Excelência em IA (Ceia), da Universidade Federal de Goiás (UFG). Como está o uso desses computadores? Eles já estão em operação? E em quais áreas devem ser utilizados, com que impacto para a população do estado?
Essa foi a primeira vez que a América Latina recebeu esses chips, que são os processadores mais modernos da NVIDIA. Existe uma fila de espera enorme para ter acesso a eles, porque o poder computacional é um fator essencial na corrida global por avanços em IA.
Precisamos treinar os modelos com grandes volumes de dados. Quanto mais dados são utilizados no treinamento, maior a chance de sucesso. Por isso, essa capacidade computacional é tão relevante. A aquisição foi feita com investimentos do Governo de Goiás, entre outras fontes, por meio do CEIA-UFG, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).
A proposta é que esses chips sejam utilizados para treinar modelos de IA voltados a diversas finalidades — educação, negócios, saúde, entre outros. Um exemplo concreto é um projeto no CEIA com uma empresa de seguros automotivos. Em vez de o cliente levar o carro para uma análise feita por mecânicos, o orçamento é gerado automaticamente a partir de fotos do veículo. É um processo mais rápido e eficiente. Para que isso funcione, é necessário treinar a IA com muitas imagens de carros danificados — e isso exige computadores potentes.
Esses chips possibilitam justamente esse tipo de treinamento com grandes bases de dados. Se quisermos, por exemplo, aplicar IA na educação, para entender a melhor forma de ensinar matemática, será preciso treinar os modelos com muitos dados sobre desempenho e aprendizado. Ou, no caso de uma IA de áudio, será necessária uma grande biblioteca de sons — e, novamente, um computador robusto para fazer esse processamento.
“Com os chips da NVIDIA, estamos treinando inteligências artificiais totalmente em português, como a Gaia”
O Google, em parceria com a UFG, inclusive lançou uma nova IA inteiramente em português: a Gaia. Ela já está disponível gratuitamente para usuários e desenvolvedores, com código aberto. E foi desenvolvida utilizando justamente os chips da NVIDIA.
Ton Paulo — O governo esteve recentemente na Estônia, em missão para fechar acordos de cooperação em tecnologia. Quais inovações vocês conseguiram trazer de lá?
Posso citar dois bons cases: Estônia e Singapura. A Estônia é considerada o maior caso de sucesso no mundo em governo digital. Praticamente todos os serviços públicos são digitais — inclusive o último a ser digitalizado foi o divórcio, que tinha pouca demanda, mas hoje também pode ser feito totalmente online, pelo aplicativo ou computador.
Fomos à Estônia para buscar inspiração e também para apresentar o que Goiás já tem feito, pois o estado já é referência no Brasil em serviços digitais. Atualmente, Goiás lidera o ranking nacional de serviços digitais.
Nosso objetivo lá foi entender como aprofundar esse processo, como integrar melhor os diferentes serviços e alcançar resultados mais eficientes. O vice-governador Daniel Vilela (MDB), que chefiou a missão, tem uma visão muito clara: ele acredita que devemos chegar ao ponto em que o cidadão possa resolver suas pendências com o governo via WhatsApp. Como o WhatsApp é amplamente utilizado por todas as faixas de renda e regiões, essa seria uma forma de ampliar o acesso. A ideia faz parte de uma política de “zero clique” — ou seja, um governo proativo, que antecipa direitos e oportunidades para o cidadão, aumentando a eficiência da máquina pública.
Em Singapura, tivemos uma atuação mais ampla. Assinamos um memorando de entendimento em diferentes áreas, incluindo inteligência artificial e desenvolvimento sustentável. Singapura é uma cidade-estado com forte foco em sustentabilidade, e estamos atentos a essas experiências.
Firmamos também uma parceria inédita entre Goiás e o Instituto de Ensino Técnico Profissional Tecnológico de Singapura, o ITE. A proposta é trocar experiências, compartilhar boas práticas e, futuramente, viabilizar intercâmbios. A ideia é que alunos e professores goianos possam ir para lá.
Italo Wolff — O estado está abrindo novas Escolas do Futuro?
Atualmente, temos seis Escolas do Futuro em Goiás, sendo cinco delas voltadas à área de tecnologia. São estruturas impressionantes, com milhões de reais investidos em laboratórios. Um dos nossos primeiros desafios foi mostrar que essas escolas são totalmente gratuitas — muita gente via a estrutura e achava que eram pagas, que tinham mensalidades altas. Então tivemos um desafio de comunicação importante.
Estamos em expansão. O governador enviou um projeto para a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), que já foi sancionado, autorizando a criação de uma nova Escola do Futuro em Catalão, que se chamará Labib Fayad. Também temos conversas avançadas para instalar uma unidade em Rio Verde.
O objetivo central das Escolas do Futuro é formar uma nova geração em tecnologia — programadores, desenvolvedores. Estamos formando cerca de dois mil programadores, entre estudantes do ensino médio que cursam, simultaneamente, desenvolvimento web e cibersegurança. Esses alunos sairão do ensino médio com um diploma técnico nessas áreas.
Nossa missão com as Escolas do Futuro é formar uma massa crítica de profissionais de tecnologia, acompanhando o crescimento acelerado desse mercado. Estamos bastante animados com os resultados e o potencial de transformação.
Ton Paulo — Em uma previsão para o futuro, como você vê o impacto do uso das inteligências artificiais na educação? Acredita que os jovens leem menos e que a tecnologia cria dificuldades na formação e na capacidade de interpretação? Ou percebe que essas ferramentas contribuem para o desenvolvimento deles?
Essa é uma previsão difícil de fazer, mas posso apontar onde as IAs mais ajudam e onde podem atrapalhar. Existe uma discussão ampla sobre atenção fragmentada e ansiedade associadas ao uso intensivo de tecnologia.
O professor Jonathan Haidt, da Universidade de Nova York, escreveu recentemente o livro A Geração Ansiosa, que está famoso no momento. Nele, ele apresenta evidências de que essa nova geração, que já nasceu imersa nas redes sociais e em um ambiente de excesso de informação, enfrenta desafios sérios de saúde mental — especialmente relacionados à ansiedade e à capacidade de atenção.
Por outro lado, a tecnologia tem potencial para resolver algo que é uma promessa antiga da educação: o ensino personalizado. Durante a história, tivemos um modelo de ensino padronizado, no qual todos os alunos recebem o mesmo conteúdo, da mesma forma, no mesmo ritmo. Só que as pessoas aprendem de maneiras diferentes. Algumas aprendem melhor com análise lógica, outras com prática, com experimentação. Há muito tempo se discute como adaptar o ensino ao perfil de cada aluno — e a IA pode tornar isso possível.
Hoje já existem casos concretos. A Khan Academy, por exemplo, disponibiliza um tutor virtual que conversa com o estudante, descobre como seu aprendizado pode ser otimizado, aplica planos de aula personalizados. Além disso, a IA tem um grande potencial para aumentar a produtividade, automatizando tarefas repetitivas e administrativas.
Mas, no fim das contas, o mundo offline continua sendo fundamental. Quem é pai ou mãe hoje precisa garantir que os filhos tenham experiências fora das telas — convivência, diálogo, interação presencial. Isso é essencial para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Hoje, para crescer profissionalmente, não basta conhecimento técnico. É preciso saber se relacionar, trabalhar em equipe. O ideal é encontrar esse equilíbrio entre tecnologia e vida real. Esse é o melhor dos dois mundos.
Ton Paulo — A Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) estuda o lançamento de um distrito que vai reunir bases tecnológicas em Goiânia. Como isso vai funcionar?
A ideia é criar um distrito de inovação — ou seja, um território onde o ecossistema de tecnologia esteja concentrado e possa gerar ganhos mútuos. Quando olhamos para exemplos como o Vale do Silício, Israel ou mesmo o Porto Digital, em Recife, vemos que a aglomeração de talentos, empresas e instituições gera uma dinâmica produtiva muito mais intensa. Isso é o que chamamos de “economia da aglomeração”.
Estamos agora estruturando esse projeto por meio de uma parceria entre o Governo de Goiás e a Prefeitura de Goiânia. Ainda estamos na fase de análise dos territórios possíveis e de levantamento das necessidades para a implantação.
O que já posso adiantar é que o distrito será composto por empresas de base tecnológica e startups; instituições formadoras de capital humano, como universidades e institutos; e investidores. A convivência desses atores num mesmo espaço físico gera inovação de forma mais rápida e concreta.
Será em Goiânia, e estamos neste momento avaliando os bairros com a Prefeitura para definir a localização. A expectativa é que o projeto esteja pronto no início do ano que vem. Estamos bastante animados com o potencial transformador dessa iniciativa.
Italo Wolff — Além da formação para crianças e adolescentes, a Secti também tem programas voltados à inclusão de idosos. Como isso tem funcionado?
Nós tratamos isso como uma jornada tecnológica. Essa jornada começa com os mais jovens. Temos os laboratórios Starts, voltados à introdução à tecnologia para crianças. São espaços com foco em robótica e no primeiro contato com o universo digital. Já temos mais de 20 desses laboratórios espalhados pelo estado.
Depois, entramos na fase das Escolas do Futuro, que atendem adolescentes e jovens adultos — geralmente no ensino médio ou pós-médio. E, na etapa final dessa jornada, temos o Cidadão Tech 60+, nosso programa de inclusão digital para idosos.
Ao analisar os dados, vimos com preocupação que há um público significativo de idosos vulneráveis digitalmente. E, com o envelhecimento da população, essa exclusão tende a crescer. Por isso, criamos um projeto específico para essa faixa etária. É um curso presencial, com direito a formatura — com beca e tudo. Os depoimentos dos formandos são emocionantes. Eles aprendem a navegar em sites, acessar bancos online e, principalmente, a se proteger de golpes virtuais. Nossa meta é formar mil idosos até o primeiro semestre do ano que vem. Já formamos quase 400 até agora.
A transformação digital só é real se for acompanhada de inclusão digital. Isso é essencial.
Temos também outro projeto importante, liderado pela primeira-dama Gracinha Caiado (UB), coordenadora do Goiás Social. Estamos levando conectividade e inclusão digital para o campo, com o programa Campo Tec (ou Cidadão Tec Campo). Ele leva acesso à internet para estudantes em áreas rurais e regiões turísticas. A meta da primeira-dama é alcançar 200 pontos de internet em localidades remotas ainda este ano.
Italo Wolff — Como está a absorção pelo mercado dos desenvolvedores e engenheiros da computação que estão sendo formados? Essa demanda por mão de obra em tecnologia deve se manter nos próximos anos?
Essa é uma pergunta difícil. A resposta — que pode ser boa ou não para o Estado — é que, hoje, quem se forma nessa área tem o mundo inteiro como mercado. Com o trabalho remoto, um profissional aqui em Goiás pode ser contratado por uma empresa de fora, ganhar em dólar, e continuar morando aqui. Tem sido, inclusive, um desafio reter esses talentos localmente.
Na minha visão, se o Estado contribuiu para a formação e essa pessoa continua morando e consumindo aqui, mesmo que trabalhando para fora, já é algo positivo. A qualificação gera renda — e isso retorna à economia local.
O fato é que há uma demanda muito alta, no Brasil e no mundo, por profissionais de tecnologia em geral — não só em IA. O que mais escuto de empresas é: “Me arruma um bom desenvolvedor.” O desafio maior está em profissionais mais experientes: vagas plenas e sênior, com bagagem prática.
As vagas júnior já estão melhor supridas — e, em alguns casos, até diminuindo, pois várias dessas funções estão sendo automatizadas com o uso de inteligência artificial. Mas o setor produtivo ainda enfrenta uma escassez real de mão de obra qualificada.
A Universidade Federal de Goiás criou um curso pioneiro de IA, o que é excelente, mas a escala ainda é pequena. Na minha opinião, o caminho para ampliar essa formação está no ensino técnico. São cursos de um ano e meio a três anos, que já capacitam a pessoa para o mercado com habilidades práticas. O estudante pode começar a ganhar experiência desde o ensino médio.
Acredito que, se quisermos escalar a formação de capital humano em tecnologia, o ensino técnico será o principal motor para isso.
Italo Wolff — Como está a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg)? Houve ampliação no número de bolsas e no financiamento a projetos de pesquisa?
Com certeza. A Fapeg bateu seu recorde histórico de orçamento. Além das bolsas acadêmicas e de pesquisa, a fundação tem financiado uma política muito bem-sucedida: a criação dos Centros de Excelência.
A ideia desses centros é identificar áreas estratégicas para o Estado ou de alta demanda e alocar recursos para a criação de estruturas capazes de transferir o conhecimento gerado nas universidades diretamente para a sociedade.
O primeiro deles foi o CEIA — Centro de Excelência em Inteligência Artificial —, que se tornou um grande sucesso. Já reúne mais de 800 pesquisadores e movimenta mais de R$ 200 milhões em projetos. Estamos ampliando esse modelo para outras áreas. Por exemplo:
CEAGRE – Centro de Excelência em Agricultura Exponencial, resultado de uma parceria entre o IF Goiano, a Fapeg, o Governo de Goiás e a Prefeitura de Rio Verde.
CEMPA-Cerrado – Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais do Cerrado, criado em parceria com a UFG, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Governo de Goiás.
CEGGen – Centro de Excelência em Genética e Genômica, parceria da Fapeg com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás).
Os Centros de Excelência são um instrumento que a Fapeg vem implementando desde 2019, e que têm crescido significativamente. Estão se consolidando como verdadeiras ilhas de excelência científica, fomentando pesquisa de alto nível e aplicação prática do conhecimento. Acho essa política extremamente bem-sucedida.
Italo Wolff — Neste momento, há preocupação com a criação de data centers no Brasil. Um projeto relatado pelo senador goiano Vanderlan Cardoso (PSD) visa incentivar o estabelecimento desses bancos de dados no país. Como avalia a situação? Há data centers suficientes para sustentar o crescimento da inteligência artificial? É necessário estímulo governamental?
Hoje, contamos tanto com data centers públicos, mantidos pelo Estado, quanto com estruturas privadas. Vale destacar, por exemplo, a Everest Digital — um data center privado, com certificação Tier 3, do grupo Soluti.
Com o avanço da inteligência artificial, cresce a necessidade de treinar modelos com grandes volumes de dados. Isso exige poder computacional, e, consequentemente, infraestrutura de data centers. Quem conseguir se posicionar de forma competitiva nesse setor terá papel fundamental no desenvolvimento da IA. Mas não é simples. Um dos principais desafios é a energia. Data centers consomem muita energia, e, no contexto atual de transição energética, o ideal é que operem com fontes sustentáveis.
Goiás está atento a esse cenário. A Secretaria-Geral do Governo estuda a construção de um plano para atrair data centers ao estado. Existe uma oportunidade econômica concreta nessa área. O Brasil, com sua alta disponibilidade de energia solar, tem condições de facilitar a instalação dessa indústria estratégica.
Um exemplo interessante é o estado da Virgínia, nos Estados Unidos, que se consolidou como o principal polo de data centers do país ao se posicionar estrategicamente desde o início dessa discussão. Ao fazer isso, o estado não só atraiu investimentos diretos, mas também impulsionou todo um ecossistema associado.
Para montar um data center, é preciso investir em cibersegurança, infraestrutura computacional, profissionais qualificados para manutenção e operação — ou seja, demanda-se uma junta técnica robusta. É um mercado estratégico e promissor. Goiás já está de olho nisso e tende a atuar de forma mais agressiva nos próximos meses e anos.
Ton Paulo — Você é um nome muito técnico, mas sabemos que as articulações políticas para as eleições de 2026 já estão em curso. Quais são os seus planos? Você tem projetos ou intenção de concorrer a um cargo eletivo? Já pensou em ser deputado?
Não, não tenho intenção de concorrer em 2026.
Ton Paulo — Nem para a Câmara, nem para a Assembleia?
Não. Eu me considero um técnico político. Tenho formação técnica, mas entendo a importância da política. No passado, participei de movimentos de renovação política e continuo acreditando que são relevantes. Mas, neste momento, sou uma figura de governo e técnico. A minha missão é fazer o máximo de entregas possível e mostrar o que o governador Ronaldo Caiado tem realizado.
Temos feito muita coisa boa, e queremos mostrar que Goiás é um caso de sucesso para o Brasil. Na eventual transição, com o vice-governador Daniel Vilela assumindo, quero apoiar esse processo. Então, minha agenda política se resume a isso, neste momento. Não sou candidato. Mais adiante, posso avaliar, mas agora não.
Ton Paulo — Ronaldo Caiado tem um projeto para 2026, é pré-candidato à Presidência da República, e Daniel Vilela é pré-candidato ao governo. Como você avalia os projetos de ambos? Acredita que são competitivos?
Acredito que sim. No cenário federal, o governador percebe uma oportunidade. Ele identifica um movimento de inclinação à direita por parte da população brasileira, e ele representa uma direita clássica — uma “direita raiz”, como se diz. É um espaço disputado, claro, e ser candidato à presidência não é tarefa fácil. Ele está fazendo a sua parte: mostrando resultados, tentando se manter firme mesmo sob pressão interna, com algumas dificuldades naturais de um processo eleitoral.
Caiado é o governador mais bem avaliado do Brasil e está colocando seu nome à disposição da população por meio de um partido grande, estruturado. Ainda que com disputas internas — o que é natural — ele está seguindo o passo a passo de alguém muito experiente na política.
No âmbito estadual, vejo uma transição natural com Daniel Vilela. Com a desincompatibilização de Caiado para disputar a presidência em 2026, o vice deve assumir o governo meses antes da eleição. Daniel é um vice atuante, não é uma figura apagada. Participou ativamente da gestão, já ocupou posições relevantes, como a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Câmara dos Deputados, e tem recebido cada vez mais missões do governador.
É um processo de transição gradual. O governador tem passado atribuições importantes ao vice, que tem respondido à altura. Vejo isso como um movimento de continuidade, que preserva os avanços do governo atual, mas que também permitirá ao Daniel Vilela imprimir sua própria marca.
É claro que eleição é sempre imprevisível, mas, olhando o cenário hoje, me parece um caminho natural.
O post José Frederico Lyra Netto: “A maior ameaça não é a inteligência artificial — é ficar de fora dessa corrida” apareceu primeiro em Jornal Opção.