Meu pai é Divino e Eterno
Meu pai é Divino e Eterno. Figura engraçada, inteligente, combativa e que odeia tudo aquilo que se deve odiar: as mazelas da humanidade.
Ainda que vagamente, recordo-me da sua caravana com uma ou duas caixas de som acopladas no teto utilizada para propagandear de tudo pelo setor onde crescemos, moramos e nos firmamos.
Depois, papai carregou explosivos. Toneladas e mais toneladas Brasil adentro. Muitas vezes, com a família inteira na boleira do caminhão. Numa dessas viagens, ao Mato Grosso, por estradas de terras lamacentas, passamos por filas e filas de caminhões e veículos atolados. Deslizando entre crateras, poças de lama, e desviando de caminhões atolados, tirando jacarés do caminho, ele enxergava o caminho onde eu só via o vasto breu da madrugada.
“Irrul, meu papai é melhor”, evidenciava.
Meu pai é divino, mas é humano e não eterno.
Mais tarde, fizemos política no estado inteiro em um caminhão palco. Alí, ele não era só quem dirigia. Era também quem anunciava, quem animava a plateia, empolgava com as ideias e narrava o mundo pra mim.
Era um excelente locutor e, talvez dali despertou o meu interesse por política, a relevia de mamãe. Ou talvez foi pelas horas e horas de sessões da Câmara e Senado que ele gostava de ouvir assistir ainda que não houvesse nenhuma discussão relevante.
Divino, ele é daquele tipo de homem que se pode contar para tudo, mesmo que eu ainda não conte tudo para ele. É um cara sensível, choroso e de uma delicadeza invejável. É fortaleza, é porto seguro, é sabedoria antiga, é pai, é tio, e sonha ser avô. É quem se desdobrou para formar dois filhos, carregando gente e o futuro do país nas costas.
Feliz Dia dos Pai, c# de vaca!
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