Nilson Vargas: muito mais do que um 5 a 1
Houve um tempo em que futsal era futebol de salão. A bola era bala de canhão, pesada, dura, não picava. Regras, muitas regras. Bola que saía do goleiro precisava bater "do lado de cá da quadra" para a jogada valer. Goleiro fora da área era uma espécie de crime inafiançável, assim como gol dentro da área.
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As regras mudaram e o jogo se soltou. Não fosse a liberação para o goleiro lançar pelo alto para o atacante, e os mais de sete mil torcedores no Centro Municipal de Eventos de Carlos Barbosa, no último domingo, não teriam visto o gol de bicicleta do Pito, da ACBF, time pentacampeão da Liga Nacional de Futsal. Uma obra de arte antecedida de um lançamento preciso, com a mão, muito alto, do goleiro Gian, que fez milagres na final contra a equipe de Orlândia, cidade do interior paulista. Os três gols que disputam o título de mais bonito de 2015 não são competitivos diante da matada no peito e do voo do Pito.
Há muitas explicações para o sucesso da ACBF, que faz de Carlos Barbosa a capital brasileira do futsal. Apoio de uma grande empresa, infraestrutura, categorias de base, marketing... ingredientes que se somam e se resumem numa palavra: alma. O futsal está impregnado nas pessoas da cidade, desde as crianças até as simpáticas nonas que deixaram alguém cuidando da macarronada para tietar Grillo, Murilo, Bruno e todo o elenco.
A goleada de 5 a 1 foi justa para os campeões e, ao mesmo tempo, injusta para os vices, que jogaram muito e acabaram facilitando para o adversário em duas falhas individuais. Teve show de civilidade do Ciço, o 5 do Orlândia que, antes do fim da partida, foi ao banco da ACBF e cumprimentou os colegas de profissão. Em seguida, todos se cumprimentaram, mesmo após uma partida com lances duros que deixaram jogadores no chão, nunca por fricote destes que desfilam no Brasileirão.
Teria sido um domingo perfeito não fosse a superlotação do ginásio. As escadas de acesso viraram arquibancadas. Os corredores que deveriam ficar livres acabaram abarrotados. Se uma pessoa precisasse descer do alto das arquibancadas por passar mal não seria nada fácil. Atenção, Carlos Barbosa: hora de dar mais uma aula de organização. Lugares marcados, respeito aos espaços, cuidados básicos com a segurança das pessoas.
Seria injusto terminar falando da superlotação. Ela existiu, mas não manchou o espetáculo da final da Liga. Meu filho de 13 anos, fã de futsal, voltou exibindo sua camiseta laranja e preta da ACBF, na qual vai colocar o número 12 e o mesmo nome dele e de um dos craques do time: Bruno. A relação do meu Bruno com aquele time que ele viu pela primeira vez ao vivo mudou para muito melhor. É assim que se conquista uma torcida e se pereniza um projeto de esporte e de boa convivência.
*ZHESPORTES