Reino do horror
Numa rara manifestação em defesa dos direitos humanos na Arábia Saudita, especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) protestaram contra a sentença de morte “arbitrária e, portanto, ilegal” proferida contra o poeta palestino Ashraf Fayadh. Detido pelo Mukhabarat, polícia religiosa saudita, em 2013 e em 2014, o poeta foi condenado a quatro anos de prisão e 800 chibatadas. No mês passado, a sentença foi alterada para pena capital.
No reino saudita, condenados à morte são degolados. Qualquer semelhança com o Estado Islâmico (EI) não é mera coincidência. O wahhabismo (de Muhammad bin Abd al-Wahhabi, clérigo ultraconservador do século 18), versão do islamismo professada pelos barbudos do EI, foi disseminado por todo o mundo árabe a partir da Arábia Saudita, onde goza do status de religião oficial.
Segundo um comitê de seis integrantes designado pela ONU, a sentença de morte foi baseada em uma coletânea de poemas publicada pelo poeta e em um único testemunho de que Fayadh teria feito comentários blasfemos em um café. Para os wahhabitas, qualquer observação desabonadora em relação a uma série de temas religiosos, incluindo o profeta Maomé, seus familiares e o Corão, livro sagrado do Islã, pode ser caracterizada como apostasia e levar seus autores à morte. Normalmente, essa acusação é utilizada contra xiitas e intelectuais.
Por iniciativa do PEN Internacional, mais de 200 poetas e escritores do mundo inteiro, incluindo Adonis, John Ashbery, Najwan Darwish e Simon Schama, lançaram um apelo pela sua libertação imediata. No texto, os signatários dizem: “Não é um crime sustentar uma ideia, ainda que impopular, nem é um crime expressar uma opinião pacificamente. Todo indivíduo tem liberdade para crer ou descrer. Liberdade de consciência é um direito humano fundamental”. Em vez de se restringir à questão humanitária, o documento assume uma posição firme em favor da liberdade de pensamento e de expressão.
Segundo a Anistia Internacional, mais de 50 pessoas correm o risco de execução na Arábia Saudita. Este ano, o reino executou 151 pessoas, número mais alto desde 1995.
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