Não existe reivindicação maior do que o direito de um único cidadão

A grande democracia não é a democracia de milhões. Nem a democracia das minorias.

É a democracia de um homem só.

O Brasil tem 200 milhões de habitantes. Quando os direitos de um único brasileiro estiverem acima das aspirações de 199.999.999 brasileiros, teremos uma democracia madura.

Nesta segunda-feira, dezenas de pessoas, sentindo-se injustiçadas por algum motivo, não importa qual, bloquearam o trânsito de Porto Alegre . Um milhão e meio de outras pessoas foram prejudicadas por isso, ouvi dizer. O que é ruim. Mas não é o pior. O pior foi a violação dos direitos dos indivíduos. De cada um que foi impedido de fazer o que lhe assegurava a lei. Aquele sujeito que estava apenas passeando com seu carro, sem nenhum compromisso, sem ter que levar o filho ao hospital, sem ter que ir para o trabalho ou para casa, sem ter que encontrar a namorada, aquele que estava rodando com seu carro só por diletantismo, aquele sujeito que foi impedido de fazer o que queria é a prova respirante da fragilidade da democracia brasileira.

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Só existe uma maneira de uma sociedade democrática funcionar: pela lei. A lei tem de estar acima de todos, tem de estar acima até da justiça. Se a lei é injusta, mude-se a lei. Até mudá-la, cumpra-se a lei.

O Estado é o guardião da lei. Essa é a principal função do Estado. Para isso foi feito. Quando o Estado falha nessa tarefa, como falhou o governo do Rio Grande do Sul nessa segunda-feira, o Estado subverte a ordem da democracia. Os cidadãos passam a raciocinar: “Se aquele grupo pode, por se achar injustiçado, o meu grupo também poderá, quando se achar injustiçado”.

E cada grupo vai lá e privatiza uma rua e submete uma cidade e, o mais grave, ultraja o direito de um único homem, de um indivíduo isolado que merecia todo o respeito por uma condição especial da qual ele desfruta: ele é um cidadão brasileiro. Não existe reivindicação ou queixa, por justa que seja, maior do que o direito de um único cidadão brasileiro.