Para chamar atenção, bloqueio de acessos à Capital é estratégia recorrente
Bloquear as principais vias de acesso a Porto Alegre tem sido uma estratégia recorrente de movimentos sociais que lutam pelo direito à moradia. Começou há um ano, quando um protesto do Fórum das Ocupações Urbanas da Região Metropolitana , também na região do encontro das avenidas da Legalidade e Mauá, no centro da cidade, gerou 10 quilômetros de congestionamento. Na época, a entidade criada em julho de 2014 atingiu o auge de sua visibilidade. Neste ano, em julho, uma manifestação de moradores da ocupação São Luiz também trancou o trânsito no local.
A manifestação de hoje , que paralisou por quase quatro horas o trânsito na chegada à Capital, foi organizada pelo Fórum das Ocupações e pelo Conselho Regional por Moradia Popular (CRMP). Juliano Fripp, um dos coordenadores do conselho, reconhece que ações como essa podem acabar gerando antipatia por parte da população. No entanto, argumenta que é "uma das poucas armas" do movimento, uma forma de chamar a atenção da sociedade para o problema do déficit habitacional.
— A gente pede desculpa para as pessoas que foram incomodadas, mas é o direito à manifestação. Queremos mostrar para a população e para a prefeitura que existe um vazio de moradia, e as pessoas estão sendo retiradas de suas casas em dezembro, às vésperas do Natal — disse.
A demora para desobstrução das vias gerou críticas quanto à atuação da Brigada Militar. O prefeito José Fortunati afirmou, em entrevista à Rádio Gaúcha, que "cada um cumprindo com seu papel, certamente nós poderemos fazer com que a cidade funcione melhor e que as leis possam ser cumpridas".
Subcomandante-geral da BM, o coronel Paulo Moacyr Stocker dos Santos reconhece que a ação demorou mais que o habitual. Segundo ele, vários fatores interferiram no andamento da operação, como a região em que ocorreu o protesto, a necessidade de remanejar efetivo e o grande número de manifestantes, incluindo mulheres e crianças. Mais de cem policiais participaram da ação. Conforme Stocker, houve ainda um atraso de uma hora devido à "interferência da prefeitura na negociação" — o secretário municipal de Urbanismo, Valter Nagelstein, que estava no local, tentou intermediar uma reunião e criticou o protesto, o que exaltou os ânimos dos manifestantes.
— Sabemos que o prejuízo para a população é incalculável, muita gente perdeu consulta e compromissos. Mas, ainda assim, o diálogo é o melhor caminho — afirmou o subcomandante.
Os grupos
- Fórum das Ocupações Urbanas da Região Metropolitana
Foi criado em julho do ano passado. Os líderes comunitários que fundaram o fórum estão entre os principais responsáveis por constituir novas invasões nos últimos anos, agindo inclusive por encomenda. Eles trabalham com fila de espera e fazem a divisão dos lotes de terrenos com o auxílio de imagens de satélite. O grupo reúne cerca de 40 ocupações da Região Metropolitana e conta com o suporte da Defensa Assessoria, dos advogados Paulo René Soares Silva e Rafael Menezes. O fórum tem como meta principal a compra das áreas invadidas. Entre suas lideranças, há pessoas vinculadas ao PT.
- Conselho Regional por Moradia Popular
Formado por dissidentes do Fórum das Ocupações, o conselho surgiu em junho deste ano. Um dos coordenadores é Juliano Fripp, filiado ao PSol. O grupo — composto por 14 ocupações de Porto Alegre, Alvorada e Sapucaia do Sul — trabalha com advogados que seriam "militantes da causa" e que, por essa razão, cobram valores populares para defender os invasores em ações de reintegração de posse. Um dos focos de atuação é a regulamentação da lei que estabelece Áreas Especiais de Interesse Social (AEIS), aprovada pelo Legislativo no final de 2014. Em abril, a prefeitura obteve na Justiça liminar suspendendo a lei.