"Sabia que minha hora ia chegar", comemora Andrigo sobre chance entre os profissionais do Inter
Conversar com Andrigo por cerca de 30 minutos dá a dimensão exata da felicidade de que a promessa colorada está por receber a primeira chance nos profissionais do Inter . Nome certo na Florida Cup, em janeiro, e consequentemente na pré-temporada nos EUA, o meia brinca, entre respostas sérias, com o momento conquistado no clube após 10 anos nas categorias de base.
Meia Andrigo é a grande aposta do Inter para 2016
Diz ter aprendido que a maturidade, aliada ao comprometimento, poderia levá-lo mais longe. Exemplo disso foi a decisão de morar no alojamento do clube até poder comprar o próprio apartamento. Até poderia pagar um aluguel, mas preferiu esperar. Foram oito anos até pegar as chaves da sua independência. O guri de Estrela, no entanto, evita se aprofundar no assunto.
— Futebol já te deu o apartamento e o que mais?
— Já me deu muitas coisas — despista Andrigo.
— Tipo o quê? Carro?
— Não gosto de falar dessas coisas... — encerra o meia-atacante
— Mas parece que o futebol deixa o cara mais bonito. É verdade?
— Isso eu sempre fui — rebate ele, descontraindo outra vez.
Andrigo prefere deixar no passado as investidas de Barcelona e Manchester United, o que o colocou no noticiário desde 2010. No momento, só quer mesmo falar de futuro e de que pretende fazer de 2016 o seu ano.
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A caminhada até o profissional teve percalços que o ajudaram a amadurecer. Rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito quando disputava a Copa Espírito Santo Sub-17, em 2011. Precisou de um ano para jogar em alto nível outra vez. Quando o amigo Valdívia sofreu a mesma lesão, em novembro, procurou-o para dar-lhe apoio e garantir que a recuperação demora, mas leva mais tempo se houver desânimo. Andrigo citou o próprio exemplo. Paciência é seu forte. Afinal, desde 2010 ele é notícia no Beira-Rio e aguarda o momento comprovar suas qualidades. Esse momento, enfim, chegou.
Qual a expectativa para a temporada?
Estou tranquilo. Feliz, era a oportunidade que eu trabalhei tanto tempo para ter, são 10 anos de Inter. E, até que enfim, chegou.
Como recebeu a notícia que você ia para Florida e pré-temporada?
Foi depois dos jogos do final do brasileiro. O Adriano (Loss, gerente da logística) me chamou, chegou com um papel que eu tinha preencher, trazer uns documentos, tudo o que precisava para fazer o visto.
Loss disse que era para a Florida Cup?
Ele deu o papel, perguntei o que era. Ficamos no Rio, para fazer o visto. E vi que era sério mesmo.
Como é a relação com o Argel?
Até falei que eu seria muito grato a ele, porque ele está me dando a primeira oportunidade que eu tanto esperava. Não só ele, né? Mas tem o Piffero (Vitorio, presidente do Inter), o Pellegrini (vice de futebol) e o Jorge Macedo (diretor de futebol), esses caras que me ajudaram. E o Argel já foi jogador, sabe como é. Entende o nosso lado, sabe como é estar do outro lado. E isso ajuda muito.
Você é tido como uma das principais promessas há muitas temporadas. Como isso não afeta o lado psicológico, o seu futebol?
Eu sempre fui tranquilo, cabeça no lugar. Claro que você se abala quando não vai, não é convocado. Nunca deixei cair, sempre mantive o foco, sabendo que a minha hora ia chegar. O importante era estar bem na hora que a minha hora chegasse. Eu sabia que não ia adiantar chutar o balde na temporada anterior, que eu não estaria lá nesta.
Como funcionava a expectativa para você, com as temporadas passadas?
Eu sempre tive muita expectativa de ir ao menos para a pré-temporada ou fazer jogos nos campeonatos no profissional porque eu vinha bem. Só que o Inter já tem o seu planejamento e seria no tempo que eles haviam determinado. Foi como eu falei: estou há 10 anos no inter. E trabalho para fazer a carreira. Ainda mais eu, que sou ansioso. Sempre quero algo a mais. A expectativa é sempre lá em cima. Muitos me perguntavam quando eu ia subir, como se fosse algo que eu decidia. E não é assim. Por mim, com 15 anos, estaria no profissional. Como falavam (imprensa) de mim muito cedo, as pessoas achavam que eu estava sempre pronto. Tive uma lesão, a mesma que o Valdívia teve agora. Demora a engrenar de novo. E as coisas vão acontecendo. Quando cheguei ao júnior, eu era mais magro, tive de fazer um trabalho mais de força.
Da onde vêm essas cobranças?
Normalmente, são torcedores. E isso não é direto. Não é gente da família, amigos. Esses estão por perto e sabem o que eu estou fazendo. São pessoas que querem me ver jogando, e tem curiosidade. Até entendo essa parte, sempre tratei com educação. Querem que eu jogue para ajudar o time, e por eu ter sido falado muito cedo, ficam com a expectativa, a mesma que eu tenho.
Assustou o interesse do Manchester e do Barcelona no teu futebol?
Fiquei feliz, na verdade. A gente gosta quando o trabalho está sendo reconhecido. Tive oportunidade de jogar contra eles quando fui para a Inglaterra. Mas isso é passado. Meu foco é aqui. Faz muitos anos isso. Já tenho o meu contrato aqui no Inter, cheguei ao profissional agora.
Ser colocado na "fogueira" (foi chamado por Abel para jogar contra o Palmeiras em 2014, quando o Inter lutava por uma vaga na Libertadores) pode ter te prejudicado?
Não, acho que não. Sempre soube da responsabilidade que eu tenho. Independentmentee se é uma final ou amistoso, sempre quero jogar, ganhar. Pra mim, sempre foi tranquilo. Procuro sempre me focar, independente da situação.
Não é fácil a carreira de jogador de futebol engrenar, tem algum staff por trás, psicólogo?
Bem simples. Eu não tenho nada demais. Não sou nada a mais. Treino forte, a mais. Quando eu treino pouco, vou para academia. Fiz muito reforço por conta do joelho (operado). Em casa, por exemplo, tenho aparelho de fisioterapia. Meu fisioterapeuta da base tinha me ensinado. E julguei necessário comprar. Isso é a única coisa que eu tenho. Nada de acompanhamento psicológico, nada demais.
Faz monitoramento no joelho?
Eu aprendi a cuidar do meu corpo. Hoje, graças a Deus, sei o que eu preciso, e o meu fisio sempre me orientou. Me dizia o que eu tinha que fazer. O meu corpo é o meu instrumento de trabalho. É como jogar com chuteira trava mista, e não colocar a trava mista. Faço reforço não só porque me lesionei, mas para prevenir outras. Faço isso para me cuidar, é muito importante. Cuido a alimentação.
Quanto tempo demorou para retornar após essa lesão?
Fiquei oito meses parado, fui liberado para jogar depois desses oito meses. E demora mais quatro meses para ganhar confiança, retomar tudo.
Chegou a conversar com o Valdívia, que teve a mesma lesão?
Quando soube, conversei com ele. É muito complicado. Só quem tá ali, sabe como é difícil. Acaba desanimando um pouco, queria estar jogando. Se tiver cabeça, pode voltar até melhor.
Você cresceu também fisicamente.
Eu era muito magro quando era mais novinho. E eu comia, cara (risos)! Mas é como eu digo que há males que vem para o bem. Fazia tratamento, e como estava parado, ganhei com mais facilidade massa muscular. Depois, transformei o que era gordura em massa. E consegui ganhar o peso ideal que precisava. Hoje, minha massa muscular é de 51.7, 51.6 (índice de massa muscular).
Após a lesão, passou pela sua cabeça que não conseguiria voltar a jogar?
Não, o futebol é a minha vida. É meu ganha-pão. Independente dos obstáculos, eu queria ser profissional. Não ia ser uma lesão no joelho que ia me parar.
Cresceu na base com grandes referências. Quem são suas inspirações?
Eu acompanho vários, não tenho um específico. Neymar, Messi, gosto muito. Tem o D'Ale que jogo com ele, e gosto muito do estilo de jogo. Além de jogar na base e, agora, ter o convívio com ele. Eu olhava na Copa do Mundo, via multicampeões, como Dida, Juan, e hoje compartilho as experiências com eles. D'Ale também, é multicampeão. É uma experiência muito boa.
Qual a posição você tem preferência para jogar?
Eu prefiro jogar pelos lados ou no meio, como eu jogo normalmente, vindo de trás. Só que eu já joguei na frente, de centroavante, em todas as posições. Não tenho frescura, para onde me colocar, me ajusto.
Joga melhor como Sasha, pelos lados?
Sim. Aberto, tipo o Sasha, Valdívia, onde o D'Ale joga.
O que você pretende no Inter, os objetivos?
Acho que é o de todo mundo: jogar, ser campeão. Fazer gols, que é o momento mais perfeito do futebol. Meu primeiro objetivo era estrear e, graças a Deus, já foi. Agora, estou focado em jogar, ajudar o time e ser campeão.
O que espera de 2016?
Espero que os meus objetivos se cumpram, essas metas, que é o principal. Eu estando bem, jogando bem, fazendo gols e tendo oportunidade, o resto é consequência. Quero fazer bastante jogos, poder ajudar e ser campeão.
Planeja comemoração especial em um primeiro gol no Beira-Rio?
Eu não tinha pensado nisso, mas vou começar a pensar numa dancinha, no que vou fazer (risos).
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